Gestão do Conhecimento: Desafios e Oportunidades na Era da Inteligência Artificial

por Arturo Cavalcanti Catunda

Gestão do Conhecimento é um termo familiar e, ao mesmo tempo, estranho, não acha? Observando suas partes, é fácil entender o que é gestão e o que é conhecimento, separadamente. De uma maneira rápida e superficial, a palavra ‘gestão’ pode ser entendida como uma maneira de organizar, controlar, planejar e priorizar recursos em função de um determinado objetivo que se pretende alcançar. Dessa forma, gerencia-se empresas, pessoas, recursos financeiros etc. Gerenciar nos leva a uma percepção do concreto, do físico, do material. Por sua vez, ‘conhecimento’ é popularmente aceito como aquilo que se sabe sobre alguma coisa. Portanto, conhece-se sobre geografia, sobre matemática e sobre como trocar um pneu de um automóvel. Ou seja, conhecimento está lá dentro do nosso cérebro, envolvido em nossa capacidade cognitiva. Mas, e a combinação dessas duas palavras: gestão e conhecimento? É possível gerenciar o que se sabe? Gerenciar algo que está na mente das pessoas? Qual seria o propósito disso para as organizações? Qual a relevância disso tudo na era da Inteligência Artificial?

Essas perguntas nos levam a refletir sobre como o conhecimento é tratado nas organizações. Historicamente, a ideia de gerenciar o conhecimento é relativamente nova. Foi apenas no século passado que surgiu o conceito de Capital Intelectual – ativo de natureza intangível, ou seja, não pode ser tocado. É entendido como a soma do capital humano, capital estrutural e capital social (ou, para alguns autores, do cliente). Capital estrutural seriam os softwares, os bancos de dados, as patentes, as marcas etc. Capital social seria o conhecimento que a organização tem dos clientes e sociedade, e o relacionamento estabelecido com eles. Capital humano, na perspectiva organizacional, incluiria além do conhecimento, a cultura e os valores[1].

Para as organizações, portanto, o conhecimento é fundamental, tanto em face do alcance de seus objetivos, quanto para se manter à frente ou em pé de igualdade com seus competidores. O conhecimento, assim, torna-se um dos mais valiosos ativos para as organizações. Porém, um ativo intangível. Nesse sentido, segundo Dave Snowden, o conhecimento intrinsicamente traz alguns desafios para ser gerido, entre eles as características de apenas ser obtido de forma voluntária e de ser acessível quando demonstrado na prática. Ou seja, o conhecimento não pode ser recrutado e apenas quando se precisa do conhecimento é que se sabe se o possui ou não[2].

Para enfrentar os desafios do conhecimento para as organizações é que existe a Gestão do Conhecimento. Segundo a Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC), Gestão do Conhecimento é:

“(…) compreender e perceber o contexto para uma abordagem de gestão intencional dos processos de identificação, criação, transferência, retenção, aplicação, proteção, experimentação, de conhecimento em produtos, serviços, processos, metodologias e ações de uma organização e/ou sociedade para geração sistêmica de memória, inteligência coletiva e colaborativa e inovação continua, aumentando a capacidade de reestruturação e transformação de sua natureza, renovando persistentemente sua vantagem competitiva[3].”

Pode-se entender que a principal contribuição da Gestão do Conhecimento é o alinhamento do capital intelectual – abrangendo fundamentalmente o conhecimento que existe ou deva existir na organização – com os objetivos, políticas e estratégias da organização. O esforço em possuir conhecimentos que não contribuam com a razão de existência da organização é, para a organização, um desperdício, assim como ignorar os conhecimentos críticos para o alcance dos objetivos, uma temeridade, concorda? Nesse aspecto, ganham relevância para a Gestão do Conhecimento o seu processo de planejamento e diagnóstico.

O intuito do planejamento é estabelecer uma correlação lógica e cronológica entre objetivos a serem alcançados com os recursos e esforços a serem empregados. Para que essa correlação lógica e cronológica seja efetiva, fundamental é realizar o diagnóstico do conhecimento. O diagnóstico é o processo de conhecimento da realidade organização do ponto de vista da Gestão do Conhecimento. O método empregado pela SBGC é um exemplo. Nele, os participantes da organização são levados a analisar três dimensões organizacionais: (i) a do negócio, como foco no alinhamento estratégico; (ii) a práticas de gestão de conhecimento existentes no negócio, mesmo que informalmente; (iii) e a do ambiente, envolvendo cultura, tecnologia e elementos de gestão. O resultado do diagnóstico é uma visão clara dos objetivos de gestão conhecimento a serem perseguidos[4].

Na era da Inteligência Artificial, a Gestão do Conhecimento assume um papel ainda mais crítico para o sucesso das organizações. Com a utilização de sistemas de IA para tomar decisões e automatizar processos, a qualidade dos dados e do conhecimento disponível se torna fundamental. A máxima “lixo que entra, lixo que sai” nunca foi tão relevante, pois os algoritmos de IA refletem a precisão e a relevância dos dados que recebem. Portanto, uma Gestão do Conhecimento eficaz não apenas melhora a eficiência interna das organizações, mas também garante que elas estejam preparadas para explorar todo o potencial da IA. Nesse cenário, a capacidade de gerenciar o conhecimento não é apenas uma vantagem competitiva, mas um requisito essencial para a sobrevivência e o crescimento contínuo das organizações.

[1] MOREIRA, Fabiano G.; VIOLIN, Fábio L.; SILVA, Luciana C. Capital intelectual como vantagem competitiva: um estudo bibliográfico. ReCaPe Revista de Carreiras e Pessoas São Paulo. Volume IV – Número 03 – Set/Out/Nov/Dez 2014 Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/recape/article/view/21839 Site acessado em 17/03/25

[2] PETROBRAS. RH. UP. GCD. PGCTD COAUTOR; THE KNOWLEDGE MANAGEMENT AND ENTERPRISE SOLUTIONS CONFERENCE (2024 : WASHINGTON). Relatório de PDRHE : KMWorld 2024. [s. l.]: PETROBRAS. RH. UP. GCD. PGCTD, 2024. Disponível em: https://research.ebsco.com/linkprocessor/plink?id=ef8f4e20-3cbe-3809-ac03-40a3a8a38d58. Acesso em: 31 mar. 2025.

[3] SBGC. Programa Essencial da GC. Módulo 1: Fundamentos de GC. Tópico 2: GC e Cultura Organizacional. Slides. Março de 2025.

[4] SBGC. Programa Essencial da GC. Módulo 1: Fundamentos de GC. Tópico 4: Diagnóstico da GC e Mapeamento de Conhecimento Crítico. Slides. Março de 2025.

 

Sobre o autor: Arturo C. Catunda é Doutor em Educação e trabalha com Gestão do Conhecimento na Universidade Petrobras. É formado em administração pela Universidade Federal da Bahia (1997), possui as titulações de especialista em Inteligência de Negócio pela PUC-RIO (2021), Doutor em Educação (2012) e Mestre em Administração (2007), ambos pela UFBA, MBA em Marketing (2001).
É autor de “As Aventuras de Max e Biriba (2014)”, “Angélica Negra (2016)”, “O Gato e a Lua (2018)” e “O Papafigo (2024)”.

Sobre o autor:

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Alunos da Certificação Gestor do Conhecimento da SBGC

Os conteúdos assinados por alunos da Certificação Gestor do Conhecimento da SBGC fazem parte das atividades práticas da formação. Por meio dessas publicações, nossos participantes colocam em prática os conhecimentos adquiridos, contribuindo com reflexões, experiências e boas práticas para a comunidade. Esta iniciativa reforça o compromisso da SBGC com o desenvolvimento de profissionais que transformam organizações por meio da Gestão do Conhecimento.

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