Por que a comunicação é essencial para a Gestão do Conhecimento?

A Gestão do Conhecimento (GC) tem como objetivo transformar informações e experiências individuais em ativos organizacionais que impulsionam a inovação e a competitividade. No entanto, para que esse conhecimento seja acessível e aplicável, ele precisa ser comunicado de forma clara, estruturada e estratégica. Sem comunicação eficaz, até mesmo as melhores práticas de GC podem se perder no ruído organizacional.

Segundo Nonaka e Takeuchi (1995), o conhecimento organizacional se desenvolve em um processo dinâmico de conversão entre os modos tácito e explícito, representado pela Espiral do Conhecimento (SECI). Esse ciclo envolve a troca de informações entre indivíduos e equipes, tornando a comunicação um fator essencial para a geração de novos conhecimentos.

Já Davenport e Prusak (1998) destacam que, para que a GC tenha impacto real, é necessário que as organizações não apenas armazenem informações, mas também criem meios eficientes para compartilhá-las e aplicá-las no dia a dia. Sem uma comunicação estruturada, o conhecimento permanece isolado em silos, limitando sua contribuição para a organização como um todo.

 

Como tornar a comunicação da GC mais eficaz?

A comunicação organizacional enfrenta desafios constantes, como excesso de informação, baixa adesão dos colaboradores e dificuldades na transmissão de mensagens estratégicas. Para superar esses desafios, algumas abordagens podem ser adotadas:

1. Criando mensagens que realmente engajam
Em Ideias que Colam, Heath e Heath (2008) apontam que mensagens eficazes compartilham seis características principais: (1) simplicidade, (2) inesperado, (3) concreto, (4) credível, (5) emocional e (6) baseado em histórias. Aplicando esse conceito à GC, a comunicação deve evitar jargões complexos e priorizar exemplos práticos que ressoem com os colaboradores.

Dica prática: Ao invés de apenas anunciar uma nova iniciativa de GC, conte a história de um colaborador que utilizou o conhecimento disponível para resolver um problema real na organização. Esse tipo de abordagem gera conexão e facilita a adoção.

2. Integrando GC à cultura organizacional
Uma das dificuldades das iniciativas de GC é a percepção de que são processos burocráticos ou desconectados das demandas diárias. Segundo Laloux (2017), no livro Reinventando as Organizações, as empresas mais inovadoras adotam práticas de comunicação que reforçam a transparência, a colaboração e a autonomia dos colaboradores na criação e no compartilhamento do conhecimento.

Dica prática: Crie canais de diálogo dentro da organização, como Comunidades de Prática, onde os colaboradores possam trocar experiências e construir conhecimento de forma coletiva. Ferramentas como intranet, fóruns internos e plataformas colaborativas podem facilitar esse processo.

 

Boas práticas para comunicar GC com impacto

  • Adapte a comunicação para diferentes níveis hierárquicos e áreas da Organização. O que faz sentido para a alta gestão pode precisar de outra abordagem para os colaboradores da linha de frente.
  • Compartilhe o conhecimento por meio de artigos, infográficos, vídeos curtos e newsletters interativas. Isso torna o conteúdo mais acessível e diversificado.
  • Demonstre como a GC resolve problemas e melhora a produtividade, ao invés de apresentá-la como um conceito abstrato.
  • Use storytelling (narrativas) para ilustrar como a GC impacta o trabalho e os resultados da organização.
  • Avalie a eficácia da comunicação por meio de métricas como taxa de acesso aos conteúdos, participação em eventos e feedback dos colaboradores.

 

Concluindo, a comunicação é o elo que transforma iniciativas de Gestão do Conhecimento em ações práticas, tornando o conhecimento acessível, relevante e aplicável. A gestão do conhecimento só é eficaz quando as pessoas sabem que ela existe, compreendem seu propósito e sabem como utilizá-la, e é exatamente aí que a comunicação, como fator estratégico, garante sua efetividade e impacto na organização.

 

Referências utilizadas:

DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento Empresarial: Como as Organizações Gerenciam seu Capital Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

HEATH, C.; HEATH, D. Ideias que Colam: Por que Algumas Ideias Pegam e Outras Não. Rio de Janeiro: Alta Books, 2008.

LALOUX, F. Reinventando as Organizações: Um Guia para Criar Organizações Inspiradas no Próximo Estágio da Consciência Humana. São Paulo: Editora Voo, 2017.

NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. The Knowledge-Creating Company: How Japanese Companies Create the Dynamics of Innovation. Oxford: Oxford University Press, 1995.

SAITO, A.; FUKUNAGA, F. (Org.). Modelo de referência Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento – SBGC: guia de referência da gestão do conhecimento. São Paulo: SBGC, 2020. 14 p. e-book. ISBN 978-65-86604-01-6.

Sobre o autor:

Foto - Mariana Lima
Mariana Lima

Mariana Lima é mestre em Gestão de Informática e do Conhecimento pela UNINOVE e especialista em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial (CRIE/UFRJ). Com mais de 20 anos de experiência, atua como consultora em GC, assessora da diretoria executiva da SBGC, coordenadora da Comunidade de Prática SBGC sobre Maturidade em GC e Inovação e liderou a pesquisa Panorama da GC no Brasil (2021-2024). Sua atuação se concentra na estruturação de conhecimento para inovação e aprendizado contínuo em indivíduos e organizações.

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