Quando Kleber foi chamado pela primeira vez para uma conversa com os diretores, eles foram sinceros: tinham ouvido falar de gestão do conhecimento e de sua importância para os negócios numa palestra da Associação Comercial, mas não entendiam exatamente como aquilo poderia ser implantado na empresa e quais benefícios traria. Com sua natural habilidade para lidar com diferentes níveis de entendimento sobre o assunto, Kleber iniciou: “- Gestão do conhecimento (GC) nada mais é do que um método, uma técnica de gestão dos ativos de conhecimento, ativos intangíveis e do capital intelectual. As práticas de GC apoiam os processos de conhecimento e as tecnologias de GC apoiam as práticas.” Mas pairavam dúvidas no ar: o que era mesmo o tal do conhecimento?
O conhecimento dos diretores era mais importante que os dos outros? ”- O chamado conhecimento explícito, mais facilmente percebido, é tudo isso: teorias, conceitos, métodos, procedimentos, fatos e opiniões. O conhecimento tácito talvez seja mais sutil: são compreensões, julgamentos, habilidades, entendimentos e suposições”, completou Kleber. Ainda, disse ele, “conhecimentos explícito e tácito formam um loop, pois quando os procedimentos são entendidos podem ser praticados e esta prática gera novas experiências que podem se transformar em novas informações e conteúdos…”
A conversa evoluiu de uma forma tão sintonizada que já nesta primeira abordagem Kleber conseguiu mostrar o valor e o papel do conhecimento para a empresa, a partir dos próprios relatos dos diretores. Eles mencionaram que tinham duas preocupações principais: perder o conhecimento que os sondadores tinham adquirido na prática, um incrível manancial de experiências que ia desde o transporte das máquinas para áreas remotas, sua montagem e instalação, até sua operação com todos os detalhes técnicos que permitiam maior produtividade; e a necessidade de inovar, absorvendo novas tecnologias de perfuração por meio de adaptações ou compra de novos equipamentos. Em outras palavras, os desafios do negócio estavam ligados a excelência operacional e inovação/mudança, buscando reter, transferir, aplicar, desenvolver e criar conhecimento.
Cerca de dois meses depois, Kleber Minellini Protazioh (KMP Consultoria) foi contratado pela empresa Quartzo & Feldspato Serviços Técnicos Ltda. para prestar consultoria na implantação de um projeto de gestão do conhecimento. A empresa possuía cerca de 330 empregados diretos e seu setor de atuação era sondagem para pesquisa mineral. A maior parte da equipe era de nível operacional, composta por sondadores, auxiliares de sondagem e auxiliares de campo. No escritório, no depósito de peças, máquinas e equipamentos e nas oficinas ficavam os demais profissionais: diretores, coordenadores, pessoal das áreas administrativas, almoxarifes, mecânicos e ajudantes. Após a fase de planejamento, ele iniciou seus trabalhos definindo o escopo e a estratégia do projeto, entendendo o modelo de negócio da empresa, sua cultura organizacional, mapeando os conhecimentos relevantes e identificando as práticas existentes.
Ao longo do processo alguns desafios sugiram, destacando-se aqui: desconfiança e dificuldades de comunicação com o nível operacional; foco excessivo de dois diretores no tema “tecnologia da informação”, que para eles seria o assunto principal a ser tratado na solução dos problemas; e a visão da coordenadora de Recursos Humanos, que tinha um projeto engavetado de “universidade corporativa” e viu a oportunidade de inserí-lo no projeto de GC, de forma descontextualizada.
Após um ano do início do projeto, tinham sido implantadas iniciativas e práticas de GC, destacando-se mentoring, lições aprendidas, benchmarking e novas ideias. Foi contratado também um coordenador de GC, responsável por mensurar, acompanhar e atuar no processo, com apoio da consultoria. Percebeu-se também, mesmo que de forma ainda moderada, uma tendência de mudança no padrão cultural, com um peso maior dos perfis colaborativo e criativo. Por fim, cabe ressaltar que, mesmo com os desafios decorrentes do período da pandemia, houve um aumento de 10% na produtividade dos serviços de sondagem e uma parceria com empresa canadense, para absorção de novas tecnologias de perfuração e recuperação de testemunhos de rocha, encontra-se em fase de negociação.
Sobre o autor:
Flavio Café
Geólogo amante da natureza e das escritas, com experiências na pesquisa mineral e na consultoria ambiental. Associado da SBGC desde agosto de 2022, pretende incrementar o aprendizado individual e coletivo.