Comunidade de Práticas
Um domínio, atuação em comunidade, diversidade de knowhow
Home > Práticas de GC > Comunidade de Práticas
O que é?
- Comunidade de Prática é um grupo de pessoas que compartilham um interesse, um problema que enfrentam regularmente, e que se unem para desenvolver conhecimento de forma a desenvolver ou aprimorar uma prática em torno desse tópico.
- O termo e os conceitos de uma Comunidade de Prática (Community of Practice – CoP) surgiram a partir de um estudo realizado por Etienne Wenger e Jean Lave sobre modelos de aprendizagem.
- A CoP se estrutura a partir dos conceitos sociais e da próprio natureza relacional do ser humano.
- As comunidades de práticas podem ocorrer de forma presencial, eletrônica ou híbrida.
- Segundo estudos realizados pela APQC (APQC, 2008) as Comunidades de Práticas estão assumindo um papel-chave na gestão do conhecimento das organizações. Isto ocorre por elas transcederem fronteiras criadas por estruturas hierárquicas, funções, aspectos geográficos e tempo. Nas organizações modernas, globais e baseadas no conhecimento, as comunidades viabilizam um ambiente de geração de conhecimento que flui por todas estas fronteiras.
- A criação de uma Comunidade de Práticas viabiliza um meio através do qual é proporcionado à empresa a retenção do conhecimento, a troca de conhecimentos entre os mais experientes e mais jovens, o fortalecimento das redes entre os profissionais. Com isto, a empresa passa a ter economia de tempo e recursos, além de possibilitar uma melhoria contínua na qualidade dos seus processos.
- Apesar da quantificação dos benefícios relacionados à utilização de Comunidades de Práticas não ser realizada na maior parte das empresas, são descritos a seguir alguns resultados positivos reportados por empresas do setor de Óleo & Gás (KOENIG, 2004):
- Chevron Corporation reportou que a utilização de Comunidades de Práticas resultou em uma redução de US$ 2 bilhões em custos operacionais;
- Schlumberger utilizou uma combinação de Comunidades de Práticas e obteve uma economia de US$ 10 milhões em um ano de atividade.
- Para uma comunidade ser considerada uma “Comunidade de Práticas”, a mesma deve possuir os seguintes três elementos, obrigatoriamente (WENGER, 2009):
- O domínio: representa uma identidade, um domínio de interesse. Os membros de uma comunidade possuem um compromisso com o domínio e compartilham uma competência que os distingue de outras pessoas que não são membros da comunidade.
- Atuação em comunidade: Para atender aos interesses relacionados a seu domínio, os membros participam de atividades e discussões em conjunto, ajudam uns aos outros e compartilham informação. São construídos relacionamentos que permitem que um membro aprenda com o outro. Além disso, não é necessário que todos os membros se conheçam diretamente ou trabalhem diariamente juntos para participar de uma mesma comunidade.
- A prática: Uma comunidade de práticas não é meramente uma comunidade de interessados sobre um assunto e sim de pessoas que trabalham com um assunto. Por exemplo, não é uma comunidade de pessoas que gostam de pintura e sim de pintores. Desta forma diz-se que os membros de uma Comunidade de Prática são os praticantes de um determinado assunto. Consequentemente, eles trocam histórias, experiências, ferramentas, formas de resolução de problemas, e outros recursos viabilizando a geração de práticas compartilhadas.
- O desenvolvimento destes três itens em paralelo é o que mantém uma comunidade ativa e sustentável.
Quando utilizar?
- Quando há necessidade de retenção e troca de conhecimentos entre colaboradores com conhecimentos e experiências distintas.
- Quando há necessidade de padronizar processos.
- Para estabelecer e disseminar melhores práticas.
- Quando é necessário disseminar ou criar uma cultura.
- Quando é necessário ativar capital intelectual (soma de todos conhecimentos dos colaboradores da empresa) para soluções de problema e inovação.
- Quando há necessidade de desenvolver e multiplicar expertises específicas em torno de práticas e processos.
- Desenvolver aprendizado pela interação.
- Criar vínculos entre colaboradores em torno do trabalho.
Recursos necessários:
- Ter um desafio compartillhado e que seja de interesse da organização.
- Um processo ou uma prática.
- Pessoas envolvidas com a prática.
- Caso seja optado por uma Comunidade de Prática presencial, é necessário a infraestrutura (Sala,…).
- Caso seja optado por suporte a virtual, é necessário a tecnologia adequada (ex.: Fórum de discussão virtual).
- Alguém instruindo no processo de implementação de uma Comunidade de Prática.
- Um sponsor (preferencialmente o ‘dono’ da prática) e um grupo de pessoas interessadas.
Como aplicar?
Definição do escopo/tema
- O primeiro passo para a implementação de uma Comunidade de Práticas, independente do tipo, é a definição de sua identidade: qual a expectativa da organização com relação a esta comunidade, qual o tema que ela abordará, quem será seu grupo-alvo e quem será seu patrocinador.
Mapeamento de Pessoas
- Quem são as referências?
- Quem está envolvido com a prática?
Definição de Objetivo da Comunidade
- Qual o resultado esperado?
- Até quando a comunidade deverá existir?
Governança
- Quais os papéis e responsabilidades?
- Quais as atividades necessárias?
- Deve ser estruturado um modelo de governança que irá depender do tipo de CoP, se a mesma terá ferramentas associadas e do porte da organização. Esta governança definirá: a dinâmica de funcionamento, as atividades de gestão da comunidade e os papéis e responsabilidades de cada um dos membros desta governança. Um modelo simplificado de governança, adaptado de CAVALCANTI (CAVALCANTI, 2007) conta com três tipos básicos de membros:
- Coordenadores, que de maneira geral, são responsáveis pela definição da estratégia de implantação da comunidade e zeladores dos seus processos básicos;
- Multiplicadores, que atuam diretamente na motivação dos usuários em manter a movimentação na comunidade;
- Usuários, que farão uso do conhecimento registrado e contribuirão com o acréscimo de novos conteúdos.
- O próximo passo, após a implantação da governança, é a estruturação do ambiente tecnológico em que a comunidade será desenvolvida e a criação dos processos básicos de funcionamento da mesma (publicação, validação, cadastramento de membros, etc.).
Capacitação
- Com a comunidade desenhada inicia-se o planejamento dos treinamentos, um específico para cada perfil.
- Primeiramente, estes são realizados para os coordenadores e multiplicadores considerando suas atribuições específicas.
- Em seguida, o treinamento dos usuários da comunidade dá continuidade ao processo, tendo como objetivos fundamentais: garantir a equalização dos usuários na comunidade, incentivar a sua participação efetiva nas atividades da comunidade e obter o feedback da percepção deles em relação a comunidade buscando um comprometimento dos mesmos.
Comunicação
- Planejar o lançamento.
Gestão da Comunidade
- Indicadores.
- Ações ativação da rede de participantes.
Processo de Implantação
- Para um processo de implementação de sucesso, podem ser necessárias a aplicação de algumas das práticas citadas abaixo, entretanto, é fundamental uma análise do contexto organizacional. Dependendo da empresa, estas práticas devem ser adaptadas ou até mesmo evitadas em alguns casos, ou seja, cada implementação é única.
- Processo de criação: define critérios e etapas para o estabelecimento de novas comunidades na organização.
- Processo de incubação: criação e acompanhamento de um plano de ação fundamentado em fatores críticos para a sustentabilidade de uma comunidade. Aplica-se aqui o conceito de “franquias”: se uma comunidade não é bem vista na organização, isso pode criar uma visão local de que a prática de comunidades como um todo não é válida para a organização. Usualmente o processo de incubação ocorre logo após o estabelecimento da comunidade e segue por alguns meses até que a CdP esteja com alicerce e rotinas bem estruturadas.
- Mapeamento de maturidade: realizado periodicamente, esse mapa indica aos responsáveis pela prática de comunidades na organização, os principais pontos fortes e fragilidades do processo estabelecido. Deve-se inicialmente criar uma visão de estágios e o que se espera em cada um desses estágios de evolução de uma comunidade. É fundamental entender que o simples fato de uma comunidade existir já traz benefícios e, portanto, nem toda comunidade precisa atingir os estágios mais avançados.
- Plano de acompanhamento: processualmente é semelhante ao plano de incubação porém com foco voltado à evolução e resultados. Para balizar este processo, pode-se utilizar um plano estratégico, roadmap de tecnologias/produtos, ou algum outro instrumento que dê indicações de quais comunidades podem contribuir mais fortemente para que a empresa atinja seus objetivos de negócio.
- Indicadores: ainda que não existam indicadores consagrados de ROI sobre comunidades de prática, é fundalmental utilizar algum mecanismo que demonstre à organização os benefícios que essa prática traz (ver “Plano de fidelização”). Além desse tipo de indicador, o time que faz gestão desta prática precisa ter em mãos indicadores que permitam melhorias globais (ex: ferramenta de colaboração, incentivos à participação, ações de comunicação junto a liderança, etc).
- Plano de Fidelização: Comunidades de Prática são, na maioria das vezes, algo voluntário na organização e que necessita gestão de mudança. Desse modo o plano de fidelização deve se pautar nos 3 pilares da fidelização de clientes: modelo educacional, contratual e de recompensas. Cada um desses modelos irá atingir a organização sob diferentes aspectos, o que fortalecerá o ambiente organizacional para que as comunidades de prática consigam se estabelecer de maneira homogênea e sustentável. O modelo educacional está associado à treinamento e comunicação, o contratual prevê o estabelecimento de benefícios exclusivos vinculados à prática e o de recompensas é o reconhecimento de comportamentos desejados dentro da organização. Existe aqui uma oportunidade de associar esses modelos à comunicação com a direção da empresa, fazendo com que esta se envolva e conheça de maneira indireta os benefícios que uma comunidade de práticas pode trazer.
- Associação com outras áreas: quanto mais amarrada a prática estiver na organização, mais forte e sustentável ela será. Para isso é necessário entender o contexto organizacional onde se está implementando comunidades e buscar outras áreas para construir essas associações. Um bom ponto de partida é com práticas de RH, onde pode-se associar a participação em comunidades com planos de carreira, mentoria ou avaliação por competências. Outras áreas potenciais: comunicação, jurídico, TI, segurança da informação, PLM, gestão de projetos, inovação etc. Não esquecer, porém, que depende do contexto de cada organização.
Boas práticas, dicas e possíveis adaptações:
Em construção.
Exemplos de aplicação:
Embraer
- Exerce a prática de comunidades desde 2009, possuindo diversos processos de sustentação associados (ver “Boas práticas, dicas e possíveis adaptações”).
- Nesta organização as comunidades obrigatoriamente devem ter reuniões presenciais mensais, realizadas na sala Ba. Isso é feito para fortalecer as redes de relacionamento e confiança na organização e aumentar as interações no ambiente virtual. Atualmente é utilizado o Sharepoint 2010 como ferramenta de colaboração para as comunidades de prática estabelecidas.
- Na Engenharia existem em torno de 90 comunidades, organizadas conforme as tecnologias ou metodologias aplicadas nos produtos.
- Pela organização, pode-se ouvir diversas histórias de como as comunidades ajudam no desenvolvimento de produtos e de profissionais mais capazes de resolver problemas e criar inovações. Além disso, diversas das discussões realizadas nas comunidades são capturadas como ativos de conhecimento (lições aprendidas, manual de práticas, etc). O uso desses ativos é gerenciado ao longo do processo de desenvolvimento de produtos, o que fomenta ainda mais a relevância das comunidades na organização.
- Também são associadas à participação em comunidades de prática diversos processos de RH como por exemplo, intercâmbio, evolução de carreira, mentoria, avaliação por competências etc.
- A participação em comunidades é voluntária e todos que assim desejam devem, obrigatoriamente passar por um treinamento de Gestão do Conhecimento que explica conceitos de comunidades, dá dicas de utilização e ressalta aspectos de segurança de informação e liability. Esse mesmo treinamento é dado na integração de novos funcionários, fomentando a cultura desejada desde a entrada na organização.
Aprenda mais:
- < http://nosda18.wordpress.com/2009/06/18/comunidades-de-praticas-nas-organizacoes-o-que-sao-e-quais-os-beneficios/ >. Acesso em 13/09/2013.
- http://nosda18.wordpress.com/2009/06/25/implantacao-de-comunidade-de-praticas/. acesso em 13/09/2013
- APQC American Productivity & Quality Center. Communities of Practice: Overview. APQC. 2008. Disponível em: <http://kmedge.org/cgi-bin/mt/mt-search.cgi?tag=CoPs&blog_id=1>. Acesso em: 03/12/2008.
- CHOO, C. W. The knowing organization: how organizations use information to construct meaning, create knowledge, and make decisions. New York: Oxford University Press. 1998.
- KOENIG, MICHAEL D. & SRIKANTAIAH, T. KANTI. (Eds.) ; Knowledge Management – Lessons Learned: what works and what doesn’t. Medford, NJ: Information Today, Inc., 2004.
- SILVA, Ricardo V., Neves A. (Org.); Gestão de Empresas na Era do Conhecimento. Ed Serinews. 2007.
- WENGER, ETIENNE. Communities of practice: a brief introduction. Disponível em: <http://www.ewenger.com/theory/>. Acesso em: 03/01/2009.
Processos de Conhecimento
( X ) Identificação ( X ) Criação ( X ) Retenção ( X ) Transferência ( X ) Aplicação